USOS E COSTUMES X CULTURAS X
INTERPRETAÇÕES
I Timóteo 2:9-10
Que do mesmo modo as mulheres se
ataviem em traje honesto, com pudor e modéstia, não com tranças, ou com ouro,
ou pérolas, ou vestidos preciosos, mas (como convém a mulher nas Igrejas que
fazem profissão de servir a Deus) com boas obras.
Depois
de muitos anos estudando a Palavra de Deus cheguei à conclusão de que, em
muitas ocasiões, aprendemos nas Igrejas algumas coisas alçadas ao posto de
doutrina ou até de mandamento bíblico que, na realidade, não passam de
interpretações, intencionais ou não, que de certa forma nos fazia sentir
ameaçados de, no mínimo, perdermos a bênção da salvação ou da santificação ou
da comunhão com Deus e a Igreja, mas que na realidade não o são.
Mas,
por que nos foi ensinado desta maneira ?
Várias
são as explicações, dentre estas cito duas:
1.
Adequação da linguagem simbólica judaica/grega
para uma linguagem mais simplista que permitisse um entendimento mais coletivo.
2.
Falta de aprofundamento na cultura, plano de
fundo ou fundo histórico da época e o não contraste com a realidade contemporânea.
Sendo assim, a docência ( professores ) das Igrejas se vêem, por falta
de preparo ou por deficiência educacional, de ensinarem como fidelíssimos os
textos primários da tradução da língua pátria assim como escritos e não como
seriam se devidamente pesquisados, embora, ainda que pesquisados não faltariam
interpretações diversas sobre os assuntos em questão, mas, ao menos, estaria
mais próximo da realidade cultural do tema.
Desta feita, em razão do tema
aqui proposto, Usos e Costumes, podemos dizer que um grande número de (
principalmente ) mulheres têm sido prejudicadas e até discriminadas, pois
deixaram a escravidão do mundo para se verem escravas da interpretação literal
de tal assunto tido como mandamento com regras punitivas.
Em nosso país, de cultura
peculiar e única, como tantos outros, criou-se, entre os cristãos, mais
notadamente pentecostais, uma sub-cultura cruel em relação as mulheres que se
vêem, muitas vezes, obrigadas a se submeterem às leis culturalmente machistas da
religião judaica, ora descritas para a época, e que hoje, por ignorância
educacional, não se leva em conta que naquele momento o Cristianismo estava
ainda em fase de implementação, ainda sem normatização, regras, mandamentos ou
leis próprias e apropriadas ( muitos dos
escritos na época hoje tidos como mandamentos foram em função dos fatos que
estavam ocorrendo na ocasião – vide contextos ) e também ainda em transição entre o judaísmo e
a nova religião em surgimento e que ainda haveria um longo caminho a ser
percorrido para a sua progressão com o passar do tempo...
Bem, o que quero dizer com esta
introdução é que os textos bíblicos devem ser, não somente lidos literalmente,
mas estudados com muitas pesquisas no âmbito cultural e contextual da época
para serem devidamente contextualizados para os nossos dias.
Vejamos então como seria a mais
condizente e consciente contextualização dos Usos e Costumes do vestuário
feminino ( e implicitamente do masculino ) para os nossos dias:
Deuteronômio
22:5
Não haverá
traje de homem na mulher, e nem vestirá o homem roupa de mulher; porque, qualquer
que faz isto, abominação é ao SENHOR teu Deus.
Neste contexto lembremos que as
vestimentas do Velho e Novo Testamento para homens e mulheres eram basicamente
os mesmos, túnicas, cintos e capas, mas, a grande diferença eram as vestimentas
íntimas, as quais sim, eram proibidas de se usarem fora de seu gênero... ou
seja, no V.T. o homem usava lenços com amarração íntima diferente das mulheres
por terem estes volumes genitais diferentemente das mulheres, mais tarde, tais
vestes evoluíram para tangas masculinas e saiotes femininos.
Salientamos também, que, como
toda cultura oriental, a cultura hebraica também era extremamente machista e
relegavam as mulheres um papel de inferioridade em relação ao homem sob a regra
da submissão.
No Japão, por exemplo, desde seu
nascimento, as meninas tinham seus pés amarrados com tiras de pano para
impedirem-nos de crescerem e também tinham seus vestidos com barras estreitas
para que, desta forma, com pés pequenos para sua altura e vestidos de barra
justas andassem, quando adultas, sempre
atrás de seus esposos, pois, do contrário se desequilibrariam e cairiam... na
China, embora algumas etnias também tivessem esta prática, na maioria as
mulheres eram obrigadas a andarem atrás de seus esposos sob pena de castigos
severos e em ambas as culturas as mesmas tinham que pedir licença e permissão
para falar com seus pares tal a discriminação...
Na cultura hebraica o machismo
era tão grande que as mulheres jamais entravam sequer nas genealogias, sendo
que por ter entrado na genealogia de Davi, Raabe foi a única excessão e tido o fato como tremenda honraria até os
dias de hoje, também nos templos judaicos as mulheres tinham locais específicos
nas periferias das naves, longe e separadas dos homens.
Tais tradições seculares
perduraram até os tempos do Novo Testamento, que, embora a Palestina tivesse
sido inundada pelas culturas gregas e romanas, mais liberais com relação as
mulheres e tenham, em parte, contaminado as práticas judaicas, com certeza, tal
tradição judaica influenciaram os judeus Paulo e Pedro e outros em suas falas e
ensinamentos às Igrejas, inserindo assim um contexto judaico à mesma, ainda que
o Apóstolo Paulo condenasse a inserção da Lei no récem-cristianismo, talvez, no
meu entendimento, o tenha feito em razão das situações envolvendo mulheres em
algumas Igrejas, como a dos Coríntios por exemplo...
Mas, anteriormente falamos sobre
o simplismo das traduções... vejamos então o que se usou nas mesmas, e como
seria o verdadeiro contexto das mesmas.. nas traduções, notadamente as do séc.
19 para cá, foram usadas as chamadas “ expressões idiomáticas “ que ocorrem
quando um termo ou frase assume um significado diferente daquele que as
palavras teriam isoladamente para que a interpretação fosse captada
coletivamente sem necessidade da compreensão da cada uma das partes, é como se
tais expressões fossem simplificadas para o entendimento geral, usamos tais
expressões idiomáticas...
Desta forma, entendo que, ao
tirar o sentido literal dos textos bíblicos trocando-os por expressões
idiomáticas, muitas vezes se dá margens à interpretações literais do texto
final que pode trazer interpretações diversas ou adversas do ensinamento
bíblico...
Exemplo: Lucas 14.12-13 – Texto
com expressão idiomática
E dizia também
ao que o tinha convidado: Quando deres um jantar, ou uma ceia, não chames os
teus amigos, nem os teus irmãos, nem os teus parentes, nem vizinhos ricos,
para que não suceda que também eles te tornem a convidar, e te seja isso
recompensado. Mas, quando fizeres convite, chama os pobres, aleijados,
mancos e cegos...
Texto sem
expressão idiomática:
E dizia também
ao que o tinha convidado: Quando deres um jantar, ou uma ceia, não chames TÃO
SOMENTE os teus amigos, nem os teus irmãos, nem os teus parentes, nem
vizinhos ricos, para que não suceda que também eles te tornem a convidar, e
te seja isso COMO RECOMPENSA. Mas, quando fizeres convite, chama TAMBÉM
os pobres, aleijados, mancos e cegos...
Perceberam como mudou o sentido
?
Agora
vejamos: I Pedro 3:3-5 ( I tm 2-9-10 – análogo ) Texto com expressão idiomática
O enfeite delas não seja o
exterior, no frisado dos cabelos, no uso de jóias de ouro, na
compostura dos vestidos; Mas o
homem encoberto no coração; no incorruptível traje de um espírito manso e
quieto, que é precioso diante de Deus. Porque assim se adornavam também
antigamente as santas mulheres que esperavam em Deus, e estavam sujeitas aos
seus próprios maridos;
Texto sem expressão idiomática:
O enfeite delas não seja SOMENTE
o exterior, no frisado dos cabelos, no uso de EXUBERANTES jóias de ouro,
na compostura DECENTE COM FRANJAS NÃO CHAMATIVAS OU COLORIDAS dos vestidos; Mas o homem SIMPLES encoberto no INTERIOR
DO coração; no incorruptível traje de um espírito manso e quieto, que é
precioso diante de Deus. Porque assim POR DENTRO se adornavam também
antigamente as santas mulheres que esperavam em Deus, e estavam sujeitas EM
RESPEITO aos seus próprios maridos;
Vendo,
então, este texto, mais contextualizado com o original, percebemos que não há
uma proibição explícita à determinado vestuário exterior ou mesmo à adornos,
mas sim, uma comparação feita pelos escritores sobre o que mais agrada ao
Senhor: moderação, decência, respeito e um coração humilde e compassivo.
Na
verdade o que os textos sugerem é a moderação e decência ao vestir-se para não
se destacar demasiadamente e tirar o sentido do culto ao Senhor, mas exalta o exacerbar-se no interior...
Seria
um tanto quanto incoerente, quando vemos a Bíblia como um todo, imaginar que
Deus proíbe vestir-se bem ou enfeitar-se para adorá-lo...
Quer
ver ?
1. Gn
24.22, 47 e 53: Abraão espelhando-se na beleza santa de sara, sua esposa, envia
à Rebeca de presente: Pendentes, Jóias de ouro e vestidos...
2. Js
22.8: Deus permite que o povo tome os despojos de ouro, jóias e vestes das
tribos conquistadas de Canaam...
3. Ct
1.10: Salomão elogia a riqueza e beleza dos adornos da sua amada Sulamita,
lembrando que cantares fala do amor do noivo ( Jesus ) por sua noiva ( a Igreja
)...
4. Pv
31.22: A mulher virtuosa de Salomão ( a Igreja, noiva de Cristo ) vestia-se do
mais belo e puro linho( luxo para ricos )...
5. Ez
16.8-14: Deus diz que sua noiva ( seu povo/Igreja ) seria conhecida em todo o
mundo por sua beleza, riqueza e formosura...
6. Is
61.10: O Profeta descreve a beleza da salvação como a noiva que se atavia para
seu noivo com suas jóias...
7. Ap
21.2: Diz que Jerusalém, está ataviada como uem ma noiva adornada para seu
esposo ( Jesus )...
Às vezes imagino que, por falta de conhecimento ou a busca do mesmo,
têm-se pregado um Deus confuso ou que não sabe muito bem o que diz, ou que, no
mínimo, não se soube fazer entender ou mesmo se os pregadores das primeiras
traduções sofriam de dislexia ou eram preguiçosos para se aprofundarem na Palavra...
E também não desejo acreditar que os neo-pregadores preferem,
sabidamente, pregar de uma forma à acorrentar o ainda místico povo de Deus que,
por sua vez, não têm se importado em buscar conhecimento ou esclarecer na
Palavra alguns distorcidos ensinamentos.
O pior é que os mais esclarecidos e estudados acabam por tornarem-se
hereges por ensinarem a verdade...
Num contexto mais contemporâneo e trazendo tudo isto para a prática,
vemos ainda hoje irmãos arraigados nos ( segundo Paulo, fracos... ) rudimentos (
da Lei do VT – Velha Aliança ) da letra ( que mata ) para coibirem, reduzirem e
submeterem a atuação feminina na Igreja por conta da má interpretação ou mesmo
da má intencionada interpretação que lhes foi ensinada e que, por si, se mescla
ao mesmo, e já natural, machismo e não levam em conta do quanto é importante e
maravilhoso o ministério feminino na Igreja, seja qual for...
Então, segundo o contexto do V.T., onde a mulher não podia usar roupas
de homens e homens as de mulher, sendo
que eram exteriormente parecidas exceto às íntimas ( estas proibidas fora do
seu gênero )... Hoje também não me parece ser diferente, pois, apesar do progresso
em todos os âmbitos da vida material humana ainda vejo no ódio, ignorância e
repulsa de alguns cristãos, em sua maioria homens dominadores ( segundo a
Psicologia ), proíbem, por exemplo, as calças compridas usadas por muitas
mulheres sem levar em consideração que, apesar da semelhança ( assim como as
vestes do VT e NT ) estas foram criadas EXLUSIVAMENTE para mulheres e tem
diferenças no corte e na confecção em relação às masculinas... mas a
diferenciação que condiz aos textos bíblicos continua valendo no vestuário
íntimo da cada gênero...
Vale, então, salientar que passa a ser desobediência e pecado contra a
Igreja o exagero das vestimentas ou adornos que tiram a atenção dos homens ao
culto ou ao exibicionismo e sensualidade condenados na Palavra, desta feita, a
moderação e a decência ao vestir-se ainda são conceitos básicos para uma mulher
cristã.
Levemos em consideração ser este o mesmo preceito usado por Paulo quando
ordenou que na Igreja a mulher cobrisse suas cabeças pelo fato de serem os seus
cabelos aparentemente a única parte do corpo da mulher à mostra e que mostrava
a sua beleza exterior chamando a atenção dos irmãos justamente PORQUE SUAS
VESTES ERAM PARECIDAS EXTERIORMENTE...
Ressalta-se então, que no que diz respeito ao vestuário dentro de suas
residências ou no entorno familiar que seja de cunho fechado, íntimo e não
declarável de cada um segundo o respeito matrimonial, assim como deve ser a
abstenção consensual do sexo matrimonial em razão da oração ou propósito...
Os dias que hoje vivemos têm nos assombrado com a multiplicação da
inversão de valores, com o descaramento e escancaramento da prostituição, pela forte
apelação pela liberdade da “ escolha de gênero “ onde homens se dizem mulheres
e vice e versa ou onde héteros têm acolhido vaidades femininas e pela
claríssima idolatria ao corpo que tem, inclusive, feito com que homens tenham a
necessidade e desejo de também mostrarem seus corpos detalhados nas academias
com roupas cada vez mais justas e mínimas fazendo com que se aprisionem à mesma
lei que se dirigia anteriormente às mulheres... só lhes falta, similarmente, inventarem e levantarem a bandeira do “
masculinismo “...
Eu, particularmente, no tocante as vestimentas femininas da atualidade,
confesso que acho muito mais seguro, até para nós homens, que as mulheres usem
calças cumpridas, desde que não justas e sempre decentes, do que os longos
vestidos com cortes laterais ou saias curtas com que algumas desavisadas irmãs
se sentam nos bancos da frente do altar, constrangendo os irmãos, sentados de
frente as mesmas, com suas posturas inadequadas ou no cruzar de suas pernas...
Assim, chegando ao fim deste breve estudo, ficamos com esta Palavra:
I Corintios 10:31-33
Portanto, quer
comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de
Deus. Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus ( aos patrícios
ou aos de dentro ), nem aos gregos ( aos de fora ), nem à Igreja de Deus. Como
também eu em tudo agrado a todos, não buscando o meu próprio proveito, mas o de
muitos, para que assim se possam salvar.
Portanto, amadas e amados do Senhor, vistam-se e portem-se com moderação
e decência, vistam-se bem, mas sem exagero, adornem-se sim, mas com mais
simplicidade e para chamar a atenção apenas do nosso Senhor que abomina a
sensualidade mas que ama a singeleza e busca a beleza e a pureza do coração.
E aos líderes, que
sejamos mais sábios e condecentes ao lidar com tais questões, sem expor as
partes porque o Senhor não envergonha a ninguém, ainda mais os de seu povo, de
sua Igreja, sejamos mais honestos e sinceros conosco mesmos, até porque, pela
nossa natureza carnal, ainda que não queiramos ou lutemos contra a mesma, somos
movidos pelos olhos, pelo que vemos e a tendência natural de nossa carnalidade
é o de proibir nas nossas mulheres o que “ admiramos “ nas alheias e o pior é
que esta é a maior causa da queda de muitos irmãos e líderes, o buscar na rua o
que não vêem ou proíbem na sua esposa dentro de casa, incutindo assim um perigosíssimo
pecado oculto movido pela sua própria concupiscência, PECADO, e acabam por
abandonar suas esposas ( e família ) acusando-as injustamente por não se
cuidarem ( por proibi-las sem sabedoria ) para se aventurarem com as depiladas,
cheirosas e bem vestidas do mundo, que, ao acabar a graça de tê-los desviado da
presença de Deus e tê-los tirados de suas famílias, os lançarão às cadeias
eternas...
Concupiscência e hipocrisia também andam juntas...
Bispo Luiz Tamburro
20/04/2022